segunda-feira, 30 de junho de 2008

40. Retro I

Ser solitário é opção, mas solidão é coisa diferente. Ser sozinho é viver em seu exclusivo paraíso ou inferno interior. É ter o semblante impresso na vidraça da janela do mundo.
Ser solitário é isolar-se de si mesmo. É buscar o reflexo e descobrir o vazio, o opaco.
Sozinho é quem quer conviver consigo mesmo sem testemunhas.
Solidão é a frustração de não ouvir sequer a própria voz.
Eu, particularmente, não temo a solidão. Ela só chegará se eu deixar que a minha companhia se torne insuportável para mim mesma.
Afinal, o que me assusta não é ser só; o que me apavora é ter saudade.
Saudade tal qual a que o dia sente da noite.


terça-feira, 24 de junho de 2008

39.


Descanso da faculdade. Graças à Deus, porque parece que quanto mais perto de entrar de férias, mais demorado o tempo passa. Terminei agora o 1° semestre, que diziam ser o mais sem-graça, o mais entediante. De fato, é sem-graça e muito entediante. E se não fosse por alguns fatos isolados, por exemplo ter feito duas amizades que nunca mais vou esquecer dentre outras coisas, eu acharia a universidade a coisa mais sem-graça do mundo. Acho que o que acontece é que a gente vai com muita sede ao pote, com expectativas mil e aquela energia toda e tal e tal, pra mais pra frente descobrir que nem tudo é festa, cachaça e homens. A gente que não estuda pra ver... Minhas notas foram até razoáveis, a média delas deu 8,69. E eu detesto coisas razoáveis, portanto, para o próximo semestre minha prioridade será estudar, estudar, estudar muito. Muito mesmo, ao triplo, ao quádruplo... Mas vi um lado bom nisso tudo: se eu consegui terminar o primeiro semestre, o resto eu consigo, facinho. Porque eu tinha (tenho) um problema em começar coisas e não terminar... Foi assim na outra faculdade, de Letras; e também nas aulas de música; e também nos cursinhos para concurso. Com muito esforço e com muita disciplina, porém, estou começando a mudar essa característica caótica da minha personalidade. Deus seja louvado por isso!!!

***

"Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim!" (Drummond)



Pronto, agora não é mais Freud que explica. É Drummond.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

38.

Coisas que eu adoro:

Andar descalça
Tulipas (acho-as lindas e só. No geral, detesto flores)
Telefonemas especiais em qualquer hora do dia
Uma BOA noite de sono
Achar dinheiro na rua, nem que seja 50 centavos. Já ajuda, afinal, vida de estudante é dura...
Comer sem culpa
O sorriso dos meus amigos, parentes, das pessoas que amo
Comprar um modelito novo
Ler um bom livro
Barulho do mar. É tão TOP o mar...
Dar presente e ver a cara de feliz da outra pessoa
Ócio. Quase sempre é criativo...
Ver na balança que eu emagreci
House, Dr House... como digo para a fer: “ô lá em house hein...” ou “a mancadinha do House é top”*
Gritar de felicidade
Beijo roubado
Arrancar sapatos depois de uma noite cansativa
Cheiro de bolo de laranja que minha mãe faz
Audrey Hepburn
Comer brigadeiro de colher
Gatos. Tenho uma paixão platônica por eles. Tão lindos, tão excêntricos, tão sérios, tão independentes...

"Meus gostos são simples: prefiro o melhor de tudo." (Oscar Wilde )

*: piadinhas infames...

sexta-feira, 6 de junho de 2008

37.

Procura-se um Amigo
Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de Sol, da Lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.
Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser; deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.
Vinícius de Moraes