sábado, 4 de agosto de 2012

239.


Estamos todos querendo ser Clarice Lispector! Ai ai ai... Abre-se a cortina:

1) A existência incomoda? A falta de papel higiênico no banheiro público também (na casa de um meio-amigo é ainda pior, porque te faz gritar e pedir outro rolo). O que nos faz realmente humanos é a capacidade de perguntarmos ‘De onde viemos? Quem somos? Pra onde vamos?’ e não crermos no ‘nascer, crescer e morrer’. E como estas perguntas têm visitado nossas vãs cabecinhas, não é? Vivemos pra perguntar. Não basta ter vida, tem que participar! 

2) Ser dois? três? Quatro? Nossa! Cincooo!? Aí já estamos querendo competir com o Pessoa ou com o Chico Anísio. Não é possível! Olha só que coisa dura de se escutar: ninguém é um. Talvez, o grande traço da genialidade está justamente em ser um único-e-só um! Infelizmente não temos as Pessoas no nome.

3) Ninguém te entende e você muito provavelmente não entende ninguém. Estamos tão cheios de nossa própria in-comun-incabilidade que chegamos a gostar dela. Com uma falsa sensação de contrato, passamos a viver de chavões (dos quais todo mundo concorda ou discorda sem dor). Nossa linguagem é cada vez mais solitária. Confuso pode não ser tão sinônimo de complexo

4) Estranhos, esquisitos, exóticos... Tudo, tudo que queremos é ser um bando de salmões nadando contra a corrente (metáfora clichê, eu sei). O problema é que somos em grande número, logo, nossa contra-cultura é cultura praticamente. Peixinhos, a correnteza mudou de lado, perceberam?! O que faremos pra sermos salmões? Acho válido tentar a mais-que-repudiada normalidade.

5) A Alem-da-lenda irá nos salvar. E no fundo, no fundo de nossas costumeiras crises existenciais, há sempre um incenso, um troço com nome chinês, um escritor pernalonga... Sim, nós temos salvação. Ele virá por nós

Somos tão normais. Não há mal nenhum em querer ser Clarice Lispector (ou Malkovich) por 15 minutos. Só precisamos estar conscientes de nossa humanidade, assim tão individual e coletiva.

“Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa! / E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos! / Gênio? Neste momento / Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu”
- Fernando Pessoa

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