Estamos
todos querendo ser Clarice Lispector! Ai ai ai... Abre-se a cortina:
1)
A existência incomoda? A falta de papel higiênico no banheiro público
também (na casa de um meio-amigo é ainda pior, porque te faz gritar e pedir
outro rolo). O que nos faz realmente humanos é a capacidade de perguntarmos ‘De
onde viemos? Quem somos? Pra onde vamos?’ e não crermos no ‘nascer,
crescer e morrer’. E como estas perguntas têm visitado nossas vãs cabecinhas, não é? Vivemos pra perguntar. Não basta ter vida, tem
que participar!
2)
Ser dois? três? Quatro? Nossa! Cincooo!? Aí já estamos querendo competir
com o Pessoa ou com o Chico Anísio. Não é possível! Olha só que
coisa dura de se escutar: ninguém é um. Talvez, o grande traço da
genialidade está justamente em ser um único-e-só um! Infelizmente não
temos as Pessoas no nome.
3) Ninguém te entende e você
muito provavelmente não entende ninguém. Estamos tão cheios de nossa própria in-comun-incabilidade
que chegamos a gostar dela. Com uma falsa sensação de contrato, passamos a viver
de chavões (dos quais todo mundo concorda ou discorda sem dor). Nossa
linguagem é cada vez mais solitária. Confuso pode não ser tão sinônimo de
complexo.
4) Estranhos, esquisitos,
exóticos... Tudo, tudo que queremos é ser um bando de salmões nadando
contra a corrente (metáfora clichê, eu sei). O problema é que somos em
grande número, logo, nossa contra-cultura é cultura praticamente.
Peixinhos, a correnteza mudou de lado, perceberam?! O que faremos pra sermos
salmões? Acho válido tentar a mais-que-repudiada normalidade.
5) A Alem-da-lenda irá nos salvar.
E no fundo, no fundo de nossas costumeiras crises existenciais, há sempre um
incenso, um troço com nome chinês, um escritor pernalonga... Sim, nós temos salvação. Ele virá por nós!
Somos tão normais. Não há
mal nenhum em querer ser Clarice Lispector (ou Malkovich) por 15 minutos. Só
precisamos estar conscientes de nossa humanidade, assim tão individual e
coletiva.
“Ser
o que penso? Mas penso ser tanta coisa! / E há tantos que pensam ser a mesma
coisa que não pode haver tantos! / Gênio? Neste momento / Cem mil cérebros
se concebem em sonho génios como eu”
- Fernando Pessoa
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