sábado, 19 de janeiro de 2008

16.

Para ela o pior sentimento do mundo é o de insegurança. Ninguém escapa, nada neutraliza. Nem dinheiro, nem amor, nem família, nem amigos, nem troféus, nem sucesso, nem fã-clube. Segurança só pode existir dentro, no núcleo da alma. Ela às vezes perdia contato com esse núcleo, e sentia medo. O medo desencadeava a crise de abstinência. Todos eram suspeitos quando lhe faltava segurança. Tudo ficava sob suspeição. Ela às vezes se sentia insegura. Nunca foi de muitas certezas, mas achava bom acreditar. Até a próxima decepção. Até o desejo desatendido. Até o atraso grave. Até a primeira expectativa frustrada. Expectativa é uma merda, é a mãe da frustração. Mas como não esperar? Como contornar a dúvida? Porque as coisas não aconteceram como ela esperava? O que ela podia afinal esperar (com segurança)? Se nunca havia certeza, para que esperar? Ela não conseguia não esperar nada. Não podia baixar o metabolismo emocional a tal ponto. Não conseguia guardar a vida num freezer. Tinha até endurecido, mas não perdera a ternura. Ainda não tinha aprendido completamente a domar o desejo, a sublimar a vontade, a não querer. Por isto considerava a insegurança o pior sentimento. Porque queria e não tinha nenhuma garantia de que teria. Porque nunca se pode saber o que há depois da curva, mesmo que já se tenha estado lá antes. Porque tudo muda. O chão nunca é firme por inteiro e o tempo todo. E nada, nem ninguém, podia ajudar nessa ânsia por segurança. Dependia só dela. E ela, às vezes, vasculhava a si mesmo por dentro e não encontrava nada. Nada. Nada além de insegurança.
ps: tá, esse blog tá muito depressivo, eu sei disso, mas vai passar...

4 comentários:

Anônimo disse...

Lembrei dum texto de um amigo que, apesar de não falar sobre insegurança, encaixa bem: "é que de tanto errar a gente deixa muito pelos cantos e alguns pedaços nunca mais são encontrados entre os vestígios da última festa, entre os destroços da última queda. Mas isso não é melancolia, é só cansaço de muito andar" (Rian Calango Doido - spleencharutos.wordpress.com).


PS: Desculpe a insensibilidade, mas enquanto a sua 'depressão' estiver rendendo textos assim tão bons, eu vou continuar torcendo pra ela não passar.

Anônimo disse...

tocante!

adoro*


bjaaaao

Anônimo disse...

a depressão faz parte, não esquenta com isso!!! recentemente perdi a confiança em alguém, talvez isso seja só insegurança. mas acho que a culpa dissó não é só de quem sente, mas da coisa, pessoa ou situação que faz sentir. bjsss. "te desejo dias de verão"

Anônimo disse...

se dependia só dela, acho que ela tem forças suficientes, em algum lugar, pra superar tanto o medo quanto a insegurança ;) espero que ela acabe primeiro com o medo, que é o que torna todos os problemas dez vezes maiores!

;*